sábado, 16 de abril de 2011

Tarde de outono



Tarde de outono

A tarde está indo embora, lentamente...
Os últimos raios de sol estão desaparecendo por trás das montanhas.
A brisa sopra de leve, nos galhos das árvores do jardim.

Os pássaros passam voando a procura dos seus ninhos.
Essa é uma tarde de outono, as primeiras folhas começam a cair...
A tarde está indo embora lentamente...

Olho para o céu e vejo, a primeira estrela aparecer...
A noite vai chegando de mansinho, as nuvens vão passando.
A lua vai surgindo lá no canto do céu.

Lá vem ela, bela e faceira iluminando toda a rua, iluminando todo o céu.
Olho para o céu e vejo um imenso manto estrelado.
Sinto o silêncio da noite, o toque da brisa passar de leve no meu rosto, e lembro de outras  tardes de outono que passou...

A tarde está indo embora lentamente...
Lembro, que é uma linda noite de outono que chega, e mais uma tarde de outono, que se vai...

                                 Maria Santos

                                   08 março de 2011


Coração é terra que ninguém vê


Coração é terra que ninguém vê


Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...



Cora Coralina



Timidez



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

Autor: (Cecília Meireles)



A casa sobre a rocha


A casa sobre a rocha.
(Mateus 7: 24)

24- ‘Portanto, todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem discreto, que construiu a sua casa sobre a rocha.

25- E caiu a chuva, e vieram as inundações, e sopraram os ventos e açoitaram a casa, mas ela não desmoronou, pois tinha sido fundada na rocha.

26- Além disso, todo aquele que houve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem tolo, que construiu a sua casa sobre a areia.

27- E caiu a chuva, e vieram as inundações, e sopraram os ventos e bateram contra aquela casa, e ela se desmoronou, e foi grande a sua queda.

28- Ora, quando Jesus tinha terminado com estas palavras, o efeito foi que as multidões ficaram assombradas com o seu modo de ensinar.

29- Pois ele as ensinava como quem tinha autoridade, e não como seus escribas.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Serenata


Permita que eu feche os meus olhos
Pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora
E cantando me pus-me a esperar-te.

Permita que eu emudeça:
Que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio
E a dor é de origem divina.

Permita que eu volte o meu rosto
Para um céu maior que este mundo
E aprenda a ser dócil no sonho
Como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles


Poeta, Viajante das Estrelas



    Meu destino é ser solitário,
coração errante,
eterno navegante sem porto
habitante das cidades ilusórias
nascidos sem dores de parto.  Sou filho do sol e da lua
no meu coração batem rimas,
no meu sangue circulam versos
e meu sorriso traduz poemas
jamais escritos por medo ou incerteza.    


Cresci no meio de olhares,
alimentei-me de sentimentos
diversos.  Crescendo dentro de almas estranhas  

sou o poeta das rimas provisórias.
Meu alimento é paixão, ódio, amor
e todo sentimento existente
nas entranhas humanas
seja ele qual for   
Sou filho do céu e do mar,
minhas veias são estradas
infinitas
por onde passam caravanas ciganas,
minha mente imenso espaço com profusão de estrelas e astros,
minhas mãos são pergaminhos sagrados
 revelando segredos antigos,
meus olhos espelho de alma tímida  
traduzindo versos que eu não quis escrever
 por uma razão qualquer.   Meu destino é seguir eternamente
sem rumos ou guias,
por estradas vazias
que levam sempre ao meu lugar. Sou filho do tudo e do nada,
da beira da estrada,
do chão e do ar. Minha voz é doce balada,
cantiga suave para o mundo sonhar.
Sou som e sou cor
sou ódio e amor
sou vida, sou morte
sou sangue sem corte  Poeta eu sou.


(Mauro Gouvea)

Anjos do Céu



Anjos do Céu
(Álvares de Azevedo)

As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d'escuma revolvem-se nus!
E quando de noite vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear,
E a trança luzente da nuvem flutua,
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham- e o vento dos céus
Vem tépido à noite nos seios beijar!
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar:
São beijos que queimam... e as noites deliram,
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar,
Por que não consentes, num beijo de amor
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?