terça-feira, 20 de setembro de 2011

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mais não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa, a lança que desfolhas, a água que de súbito brota da tua alegria,
A repentina onda de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados ás vezes por ver que a terra
Não muda, mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas
Da vida.

Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se de súbito vires que o meu sangue manchar as pedras da rua, ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como
Uma espada fresca.

Á beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e na primavera,
Amor, quero teu riso como a flor que esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.

Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas tortas da ilha, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando meus passos vão, quando voltam
Meus passos, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque
Então morreria.



                                                                Pablo Neruda


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