sábado, 12 de fevereiro de 2011

Teus olhos - Gondoleiro do amor




                                                         (Barcarola)

 Teus olhos são negros, negros, Como as noites sem luar...  São ardentes, são profundos,  Como o negrume do mar; 
Sobre o barco dos  amores,  Da vida boiando à flor,  Douram teus olhos a fronte  Do Gondoleiro do amor. 
Tua voz é a cavatina  Dos palácios de Sorrento,  Quando a praia beija a vaga,  Quando a vaga beija o vento; 
E como em noites de Itália,  Ama um canto o pecador,  Bebe a harmonia em teus cantos  O Gondoleiro do amor. 
Teu sorriso é uma aurora,  Que o horizonte enrubesceu,  — Rosa aberta com biquinho  Das aves rubras do céu. 
Nas tempestades da vida  Das rajadas no furor,  Foi-se a noite, tem auroras  O Gondoleiro do amor. 
Teu seio é vaga dourada  Ao tíbio clarão da lua,  Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua; 
Como é doce, em pensamento,  Do teu colo no langor  Vogar, naufragar, perder-se  O Gondoleiro do amor! ... 
Teu amor na treva é — um astro,  No silêncio uma canção,  É brisa — nas calmarias,  É abrigo — no tufão; 
Por isso eu te amo, querida,  Quer no prazer, quer na dor,  Rosa! Canto! Sombra! Estrela!  Do Gondoleiro do amor.


Castro Alves


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